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o estrago que a gente (não) faz.



By  bomdiathams     sábado, setembro 07, 2013     
Você ama essa aventura louca, o modo como eu te faço sentir. Ama a sensação de conversar comigo como se pulasse de pára-quedas, como se subitamente seus pés saíssem do chão. Gosta de sentir na pele o conforto de me tocar sem compromisso.

Você gosta desse estrago. De me ver desconstruindo tudo só pra dar um espaço pra você habitar, e de deixar você ficar à meia noite de uma sexta chuvosa debaixo do cobertor, mesmo sem a promessa de que amanhã estaremos as duas dentro do mesmo quarto. Você gosta do modo como eu paro meu mundo pra fazer funcionar o seu.
Você gosta é de receber atenção, de quem sorri forçado pra você e tem sempre um elogio na ponta da língua. De quem passeia com os olhos pelo seu corpo todo, de quem perde minutos te vendo passar.
Você gosta de se sentir importante, de ter as unhas pintadas e de cruzar olhares com todos os caras altos e bonitos que provavelmente se interessam por você, mas que acha que não, simplesmente por que ainda não entendeu o que em você interessaria esses caras. No fundo você sabe.

Você não me ama, garota. Você ama nosso suor e nossos movimentos, mas amaria se fosse o suor e os movimentos de qualquer outra pessoa.
Você ama nossa dependência, nossa necessidade de se escorar uma na outra, apenas porque você não tem mais ninguém pra te salvar.
Você ama nosso vício, como somos feitas da mesma substância que fumamos. Você ama me tragar só pra poder me soprar pra longe.

Você está confortável na posição de mar e eu infeliz na posição de bóia. Você tem ao seu redor o mundo inteiro pra te fazer feliz e eu só tenho a mim mesma.

Por isso pego o caminho da rodoviária com todas as malas feitas, a casa trancada e o corpo fechado.

A gente não deve nada uma pra outra, mas se quiser, você paga a conta.

cena do filme "Eternal Sunshine of the Spotless Mind"

Sobre bomdiathams

Escrevo porque não sei lidar. Por isso sou tentativa, despedida, impossibilidade que termina em tempestade. Escrevo porque não me resta alternativa se não derramar. Escrevo pra me livrar, ser um dia livre - e inconstante, como todas as minhas nuvens. (Jornalista, militante e capitã da areia.)

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