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À dor da pele. ("eu me chamo antônio")



By  bomdiathams     domingo, março 17, 2013    Marcadores: 


Meu signo é câncer. Não posso fugir do que sou. Sou emoção. Sou flor da pele. Vivo à dor da pele, vivo a dor: na pele. Levo muito a sério os excessos, os gritos. Absorvo o mundo – o meu redor – com sensibilidade extrema. E me calo. E isso é extremamente desgastante. Tudo se tornou delicado demais para ser dito, sentido. Tudo parece romper a qualquer momento, a qualquer palavra, a qualquer gesto. Tudo passou a ser um eterno desconforto. Sim, sou silêncio. Nasci chorando, provavelmente. A parteira é testemunha. Mas a vida tem me criado em silêncio. As palavras me condenam. Se eu me orgulho? Claro que não! Que ser humano em sã consciência gostaria de passar a vida no seu próprio mundo, refugiado no seu próprio corpo, engolido pelo próprio orgulho, se debatendo com o próprio ego, procurando uma companhia solitária na solidão dos próprios órgãos? Ora me pego dialogando com as minhas artérias, que estão ficando entupidas de rancor. Outrora, me pego questionando o meu fígado, que já está bêbado de agonia. Por vezes, me pego tentando entender o meu coração, que já começa a bater mais devagar. E quase se apaga. Noutras, desabafo com os meus pulmões, que, confesso, também estão perdendo o fôlego, estão ficando sem respostas: sem ar: sem argumento. Entendo que o sangue é como um rio vermelho que escorre, e distribui silenciosamente pelo nosso corpo todo o nosso passado, nossas emoções, nossas mágoas, nossos medos, nossos acertos, nossos erros, nossos amores – e desamores, claro. Sim. Somos reflexos do que fomos. E continuaremos assim até ousar sair da inércia. Até criar coragem e levantar esse véu invisível que nos cega e não nos deixa enxergar a beleza e a grandeza do mundo: do nosso mundo. Até dar um passo à frente sem medo de deixar que algo, importante ou não, fique para trás. Tenho uma vida inteira pela frente. Preciso me consertar, me entender e seguir meu destino. Não posso mais me dar o privilégio de me afundar em problemas que nem sempre são meus, que nasceram bem antes de eu nascer. Também sou consequência do passado. Também tenho incontáveis dores, que foram ficando por baixo dos danos. Também tenho traumas insuperáveis, pelos quais me entreguei de corpo e calma. Mas também sei que sou humano: também sou uma fonte inesgotável de brilho.

("eu me chamo antônio")

Sobre bomdiathams

Escrevo porque não sei lidar. Por isso sou tentativa, despedida, impossibilidade que termina em tempestade. Escrevo porque não me resta alternativa se não derramar. Escrevo pra me livrar, ser um dia livre - e inconstante, como todas as minhas nuvens. (Jornalista, militante e capitã da areia.)

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