Pra um amor.


Quando tu me beijas, e vem descendo os lábios grandes pra cima dos meus, somos dois mares que se entregam e se consomem em tempestade. Em movimentos contrários, mordo um pedaço no interior da tua boca, passo a língua no céu, onde é o nosso céu, cheio de estrelas amarelas que brilham pra mim. Tu sorris, e o sorriso me dá o delírio necessário pra continuar. Forço minha cabeça praquele lugar entre o teu pescoço e o teu ombro, aquele lugar indefinível mas que eu sempre sei alcançar, porque tu te arrepias. Volto com rapidez pra onde nossa saliva serve de onda, eu navego com os olhos fechados e sei exatamente onde embarcar. Nossas línguas se entrelaçam em valsa, elas dançam, se compreendem, se amam. No meio do beijo mais calmo, tu continuas sorrindo, no mais rápido tu ficas séria. Eu me delicio nessa síntese de emoções, abro os olhos com sutileza e observo todos os teus vestígios... teu cabelo agora ruivo, tuas sobrancelhas agora claras, teus cílios longos e pintados de preto com rímel borrado, teus olhos fechados calmamente em desejo, teu nariz pequeno com o piercing reluzindo num pedaço de luz na parede, tuas bochechas rosadas crescendo conforme nosso movimento ganha velocidade, e finalmente... tua boca!
Contornada pelos deuses, em traços doces que me atraem como um imã. Pintadas num degradê, tua boca sufocada pela minha. Tua boca, o universo onde reinam todas as minhas vontades, meus sonhos, minhas necessidades. Onde os teus lábios grandes e os meus jeitosos se fundem por puro instinto, se metamorfoseiam em asas que alçam vôo juntas, procurando perdidos por uma bússola, ou destinados ao infinito de depois desse planeta. Nosso beijo é feito as estrelas no céu do deserto do Saara, mergulhadas na imensidão. Feito o mar debaixo da lua cheia, revoltado. Feito todos os deuses que se amam e se encontram na mitologia pra criar histórias lindas, como os planetas que se alinham pra criar sentimentos nos pobres seres-humanos. Nosso beijo não tem fundamentos, não deve respostas pra ninguém, é o único lugar no mundo onde nos refugiamos do mundo. Quando nossas línguas se entregam, quando tu me apertas contra ti mesma, dentro da minha cabeça, um turbilhão de memórias descarregam vontade de chorar. A água escorre e se junta ao delírio do momento, beijo molhado de felicidade e tristeza.
Eu fico do tamanho da lua. Você, que já é uma estrela, infla feito um planeta.

Juntas, nós brilhamos. Nosso beijo é um enredo, nossa história é um livro.
Os livros duram pra sempre, as estrelas explodem e dão lugar a milhares de outras estrelas-histórias no infinito. Tu me fez feliz, guria. Ainda me faz.