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Algumas viagens não tem volta.



By  bomdiathams     sábado, abril 06, 2013     


Tem gente que nasce sabendo que os pés não se atraem ao chão. São os fenômenos contra a gravidade, os telescópios à procura de algum tipo de eternidade além desse planeta. Longe da castidade angelical, são os que tem asas brotadas em forma de tatuagens e corujas como guias.

Esse tipinho, ao qual me incluo, não se contenta com meias verdades ou mentiras sinceras. Procura defenestrar as concepções e destruir todo e qualquer resquício de realidade.
São os bovaristas que se ocupam em perder dias inteiros pensando qual batida seu coração se encontra. Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó... dó do silêncio. E nessa brincadeira, passam-se as horas, os sons e os sonos...

Os pés gelados no chão não indicam direções, e tampouco as necessito. São o tratamento de choque da verdade, me provam que estou vivo, respirando e portanto, sendo. Sorrio com facilidade mas a neblina ao meu redor ainda é onírica (ou seria só tabaco?). Já não sei. Vivo um sonho ou ele vive em mim, me arrebate, me expurga, me orienta? Já não lembro.

Isso que chamamos de mente tem me pregado peças. Sou refém do silêncio pra que esse possa me criar, e vice-versa. Silêncio-mãe... cheio de sussurros. Busco no cigarro uma resposta, e o bloquinho em branco ofende minha palidez. Procuro a Angústia. Não, não essa, que mantém o peito num emaranhado de desconexões apertadas. A Angústia de Graciliano Ramos. Procuro uma bebida, mas a geladeira oferece só datas de vencimento. Devo ter vindo com uma data de vencimento também, mas ela foi se apagando à medida que gastei a sola dos pés, seguindo uma busca interminável. Pra onde? Planetas. Memórias. Psicanálise.

No fim vale ser mensagem, ser lembrança, ainda que ela só exista por detrás dos próprios olhos. 
É isso que enxergo aqui dentro: infinito. É isso que enxergo lá fora: eternidade.

Algumas viagens não tem volta.


Sobre bomdiathams

Escrevo porque não sei lidar. Por isso sou tentativa, despedida, impossibilidade que termina em tempestade. Escrevo porque não me resta alternativa se não derramar. Escrevo pra me livrar, ser um dia livre - e inconstante, como todas as minhas nuvens. (Jornalista, militante e capitã da areia.)

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