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overdose.



By  bomdiathams     domingo, fevereiro 03, 2013     


Respiro fundo. Chove fino lá fora. Meu peito assovia.
Os calendários estão jogados pelo chão do quarto. 
Minha visão embaçada sugere tudo em preto e branco.
Os quadros assinalam que eu há muito tempo partira.

(o mundo ainda está cicatrizando)

A fumaça do último cigarro apagando se mistura a última chama de vontade.
As paredes movem-se pra dentro. A força centrifugando suga portas, janelas.
Luzes piscam e vão embora. Se apagam lentamente.
Os copos estão jogados, os corpos também.

(seres humanos são luzes intermitentes)

Não sei em que dia estamos. Nem se acordei por impulso ou sem querer. 
Esqueci como é que se respira. 
Tentei me afogar dentro do quarto, entre datas, relógios, fotografias. 
Abri a janela quando a chuva aumentou, feita de mil punhais, me marcando os ombros.
 Esqueci como é sofrimento.

(somos sombras do que nunca poderemos ser)

Dedos gélidos marcavam o tempo. Tremiam e comichavam.
Ouvidos zumbiam e cochichavam entre si, maldizendo-me com tanta vontade que acreditei.
Meus olhos permanecem abertos embora eu já não enxergue nada. 

Tudo o que possuo são as letras, os calendários e os relógios. 
As passagens do tempo, as passagens do trem, a contagem da vida.
Cada segundo que se passa, é um segundo mais próximo do fim. 
Preciso de uma overdose.

(preciso de uma overdose de palavras.)


Sobre bomdiathams

Escrevo porque não sei lidar. Por isso sou tentativa, despedida, impossibilidade que termina em tempestade. Escrevo porque não me resta alternativa se não derramar. Escrevo pra me livrar, ser um dia livre - e inconstante, como todas as minhas nuvens. (Jornalista, militante e capitã da areia.)

Um comentário:

Poeta da Colina disse...

Talvez a alma nada tenha e nada leve, apenas marque.