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Em-canto



By  bomdiathams     quinta-feira, janeiro 24, 2013     

Eu me jogo pra dentro de um canto...

E longe do céu, me faço de nuvem.
Chovo, escorro, meu encanto se esvai. Eu já fui bela, tão bela que me dava pena ser só de você. Havia nos meus olhos certo brilho safado que possuía tudo o que queria.
Era um riso hercúleo, domado por Dionísio e enfeitado por Afrodite. Eu era tudo o que queria ser. Os dentes, que já foram brancos, enalteciam um mistério que se apagou aos poucos. Culpa dos anos de cigarro, tosse seca e falta de assunto. Minhas mãos, antes tão fortes, que com fulgor seguraram o mundo, agora caem flácidas e acinzentadas.
Sem pudor, levantam copo atrás de copo, bar após bar, sem enfeites, sem a menor graça.
Minha graça também me deixou. Meus cabelos em pé de manhã perderam o brilho. Meu corpo solitário só de samba-canção também não oferece mais desejo. O som da minha voz arranha a garganta, sobe pelos cantos da parede e afoga quem está despreparado. Meu desafino é brutal.
Minhas pernas agora finas e manchadas, insustentam uma caminhada pela vida. Tudo a seu tempo, e só o meu tempo andando devagar...


Mesmo assim, eu canto. O que sobrou do meu encanto, que trate de se reinventar.


Sobre bomdiathams

Escrevo porque não sei lidar. Por isso sou tentativa, despedida, impossibilidade que termina em tempestade. Escrevo porque não me resta alternativa se não derramar. Escrevo pra me livrar, ser um dia livre - e inconstante, como todas as minhas nuvens. (Jornalista, militante e capitã da areia.)

Um comentário:

Poeta da Colina disse...

A beleza realmente permanece via no olhar.